Cristina, Portuguesa Setubalense, mãe de Gabriel de 2 anos, casada com Alex, Brasileiro Paulista aguardavam ansiosamente a chegada de Tiago semente germinada há 8 meses no ventre. Mais uma vez o milagre da vida viria a acontecer naquela casa! Gabriel tinha nascido de 28 semanas, tão pequeno que parecia um passarinho caído do ninho, pouco maior que a palma da mão. Uma história de forca e coragem e de sobrevivência.
Na noite de 19 de Julho, 2 semanas antes da data prevista para o nascimento, correram para o hospital com uma dor forte no ventre. Com lágrimas e o coração apertado Cristina deixa-se ir nas mãos dos médicos que lhe efectuaram uma cesariana de urgência. Mas Tiago tinha deixado de respirar, asfixiado pela deslocação da placenta.
A menos de um mês da data prevista, a vida do Tiago foi interrompida.
A menos de um mês da data prevista, a vida do Tiago foi interrompida.
"Os bons morrem jovens", esta frase de Renato Russo não me sai da cabeça.
Esta poderia ser mais uma das tristes historias que se lê nos jornais todos os dias, tirando que estas são pessoas que conheço há mais de 10 anos, amigos que acompanhei o inicio de relação, o precoce nascimento e difícil desenvolvimento de Gabriel, a Cristina, a minha melhor amiga, o Tiago o meu futuro afilhado a quem tinha acariciado no ventre da mãe...
Tendo crescido num meio em que o catolicismo é um rotulo e não uma questão de fé e com uma mente demasiado inquisitorial para conseguir entender como é que de tantas religiões eu teria de acreditar naquela se afinal haviam tantas outras a quem os seus crentes juravam ser a verdadeira fé e o caminho da salvação, desde cedo que adoptei uma postura ateia. Não me considero agnóstico, porque sou uma pessoa de fé que cresci a ler os sinais da natureza, do universo e acreditar neles, que sempre jurei ter um anjo da guarda do meu lado porque milagres acontecem-me dia após dia, e então dei por mim a render-me a este Deus cristão e não a Ala ou Vishnu, Shiva e Brahma por exemplo. Porque alias ser ateu não define exactamente a fé que sinto por algo superior a nós meros seres humanos mortais que nunca consegui dar um nome concreto. Talvez hoje chegue a corajosa conclusão de que não foi o Senhor dos Senhores que até aqui me tem ajudado dando uma “mãozinha”, mas que foi, ora a vida com as suas contingências (pois o acaso não se resume só a acidentes, mas também a livramentos), ora minha própria capacidade humana de reverter situações, ora também a minha incapacidade ou imperfeição me colocando em apuros .
Hoje me pergunto, tal como perguntava na minha adolescência rebelde, se a fé neste Deus, ou qualquer outro não é mais do que um refugio que o ser humano criou para poder continuar a ter esperança nos momentos de angustia, porque é intrinco ao ser humano acreditar nalguma coisa onde se possa apoiar nos tempos difíceis. As coisas acontecem porque a Natureza assim o define, um Deus misericordioso nao acabaria com uma vida antes de esta sequer ter sido vivida... "Tudo acontece por um motivo" sempre acreditei, mas hoje me pergunto qual será este misterioso motivo para que uma criança que ainda nem veio ao mundo morrer aos 8 meses de gestação? Se é este o Deus que olha por nós nos momentos de aflição, talvez prefira ser ateu e colocar as minhas esperanças na ciência, que pode não fazer milagres, mas traz as explicação que satisfazem as minhas questões.
Hoje é um bom dia para ser agnóstico e um bom dia para perguntar a este Deus, que acredito porque assim me disseram para acreditar desde criança, o porque.
Tendo estudado numa escola Jesuíta, onde sacrilégio era seguir o voto de pobreza, sei a resposta que um crente me daria neste momento "que Deus nos dá provas para testar a nossa fé"...(o crente acredita que até quando tudo sai errado é porque Deus está provando sua fé...aí é fácil ser “Deus”, pois quando acertamos ele é o premiado e quando erramos é porque Ele está nos testando. Isto ocorre porque a religião cristã projectou em Deus todas as qualidades humanas, elevadas a máxima potencia, deixando para o homem todos os defeitos, talvez na verdade, o homem quando adora a Deus, ele está simplesmente adorando a si mesmo, porque Deus não passa da mera projecção do desejo humano!)
Parece-me demasiado estranha esta prova, e sei que me vai custar a digerir como é que uma vida sepultada aos 8 meses se reflecte de alguma maneira num Deus cheio de compaixão...
Sim, a vida é frágil e cada dia vivido é uma bênção, mas se calhar vou passar a agradecer á alimentação equilibrada que sempre tive, ao exercício que faço e há falta de maus hábitos que nunca tive.
Não é um bom dia para ser ateu porque fiquei decepcionada com Deus pelas agruras da vida, nem muito menos por causa da igreja e de muitos homens de Deus que são uma verdadeira mancha e vergonha para o evangelho de homens sérios que acreditaram e lutaram pelas sua fé (nunca questionei e nem questiono a verdade subjetiva da fé religiosa para seus seguidores, mas o que sempre questionei e questiono é a verdade objectiva dessas crenças), admito não ter ideias utópicas, apenas vivo a vida sem grande pretensão e ilusão, como também sem grande desespero e pessimismo, pois para mim, apesar dos pesares da vida, eu amo a existência, adoro viver e não preciso do conforto ilusório do paraíso eterno como consolo para a nossa obviamente efémera e insignificante vida!
Hoje é um bom dia para ser cientista, hoje o meu coração esta de luto!
"A voz de Deus é geralmente nada mais que um suspiro;
e você tem que estar muito atento para ouvir-la."

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